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Luiz Antonio Simas fala sobre a cultura carioca |
O Projeto Viajantes
do Território - uma Cartografia Colaborativa da Região Portuária do Rio de
Janeiro, recebeu na tarde desta sexta-feira (4), no Museu do Rio – MAR, Centro
do Rio, o Historiador Luiz Antonio Simas, que fez uma palestra sobre a cultura
popular na Região do Porto do Rio.
Na fala, Simas fez uma
exposição a partir do conceito que chama de ‘história reflexiva’ para que se
possa entender como se deu a formação cultural da cidade do Rio de Janeiro. O historiador citou o cronista Marques Rebelo
para explicar o conceito, reafirmando a ideia de que uma cidade é feita por
várias cidades, um território que está em disputa permanente. Ou seja, a lógica
das identidades territoriais formadas com as experiências de enfrentamento em
meio à diversidade.
“O Rio foi o porto a
receber o maior fluxo de escravos negros no período da escravidão. Essa foi uma
experiência visceral para a cidade, pois aqui chegam pessoas que queriam simplesmente
sobreviver após um processo brutal e violento em que foram retirados de suas
casas, obrigados e abandonar suas referências e famílias no continente africano.
Aqui elas foram obrigadas a reconstruir sua vida, a se reinventar, por isso o
negro foi fundamental na formação da cultural do Rio” – disse o pesquisador
autor de livros como ‘Pedrinhas Miúdas’ e ‘Dicionário Social do Samba’, entre
outros que abordam o universo da cultura popular carioca.
O historiador afirmou
que a Região Portuária do Rio é o território onde essa reinvenção se fez mais
presente no aspecto cultural como, por exemplo, na formação da religiosidade, a
partir da base afro-ameríndia com a chamada ‘macumba carioca’, casas de angu e terreiros
que acabaram se configurando como centros de construção associativa de laços e
identidade cultural, citando espaços da região como a Pedra do Sal local onde
eram realizados assentamentos de santo.
“A exclusão social no Brasil foi um projeto de Estado”
Mas esse processo
civilizatório tão espontâneo sofre uma tentativa de bloqueio com o surgimento da
República que tenta implementar um padrão europeu de sociedade. O Rio de
Janeiro precisava ser francês. A urbanização da cidade em 1900, pelo então
Prefeito Pereira Passos, é uma prova disso com uma tentativa de reprodução da
chamada “Belle époque” carioca inspirada
na cidade luz - Paris. Além da derrubada de morros e criação de longas avenidas,
como a Rio Branco, antiga Avenida Central.
Na parte social, a “Lei
da Vadiagem” é a maior representação dessa nova cidade europeia e branca que
tentava substituir uma cidade diversa e caótica. A lei é criada para coibir a
cultura do batuque, capoeira e qualquer tipo de manifestação do Rio mestiço e
negro, já consolidado no entorno do porto.
“Há no Rio de Janeiro
uma cultura da informalidade absolutamente arraigada ao cotidiano do carioca. Essa
cultura se estabelece entre as frestas deixadas por um poder público que
historicamente se preocupou mais em reprimir do que em incluir. A exclusão
social no Brasil foi um projeto de Estado. A República fechou as portas, após a
abolição da escravatura no final do Império, a qualquer projeto de integração
dos descendentes de escravizados no mercado formal de trabalho e no exercício
pleno da cidadania” – completou Simas.
Sobre o Viajantes do Território
O projeto iniciado em
2014, pelo Gestor Cultural Egeu Laus, é uma incubadora que atua no apoio de
inciativas culturais que possam trazer benefícios para os moradores da Região
Portuária do Rio. O coletivo colaborativo realiza cursos e desenvolve
metodologias próprias de tecnologia social que possam ajudar a construir novas
formas de produção sustentável baseadas no compartilhamento e colaboração. São
empreendimentos socioculturais, ideias e projetos ligados à arte, cultura e
sustentabilidade.
O Viajantes do
Território recebe inscrições até o dia 25 de março de moradores e
frequentadores da região do porto através da Escola do Olhar, uma inciativa do
Museu de Arte do Rio o Mar.
Para saber mais sobre o projeto acesse
facebook.com/viajantesdoterritorio
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