Yanus Varoufakis ficou conhecido
recentemente por ter sido o ministro das finanças da Grécia em 2015 no governo
de esquerda liberado pelo partido Syriza. Na época participou das negociações
para resolução da impagável dívida grega que fez o país entrar numa profunda
crise de liquidez.
Varafakis é formado em matemática e estatística,
tendo doutorado em em Economia, na Universidade de Essex, concluído em 1987. Em
1988, passou um ano como um Fellow na Universidade de Cambridge. Foi professor
de Economia na Universidade de Sydney entre 1988 e
2000. Em seguida foi nomeado para a Universidade de Atenas. A partir de 2013,
também lecionou na Universidade do Texas, em Austin .
Em 2010 ele fundou, com o
artista Danae Stratou, a organização sem
fins lucrativos Vital Space. A partir de 2012, trabalhou
para a Valve Corporation , inicialmente como
economista da empresa, em seguida, como consultor. Tem um blog com os
resultados de sua pesquisa.
Desde o início da crise global e do euro em 2008, Varoufákis
tem sido um participante ativo nos debates sobre esses eventos. Juntamente com Stuart Holland e James K. Galbraith, ele é o
autor de uma proposta modesta para resolver a crise do euro.
Em palestra no ‘TED.com’ ele
faz uma previsão afirmando que o capitalismo vai engolir a democracia. O
economista grego que se considera um marxista libertário faz uma análise de
como o poder econômico e corporativo se apropriou da esfera política em todos
os sentidos, criando assim uma situação que pode significa o fim da chamada
democracia liberal.
“A esfera econômica está
colonizando a esfera política, devorando o seu poder” – alertou.
Yanus Varoufakis afirma que o
poder corporativo está aumentando em demasia sua influência, e que isso faz com
que os bens políticos se desvalorizem, o que acarreta no crescimento da desigualdade
social.
Na palestra o ex-ministro
grego das finanças faz uma analogia bem interessante, usando dois sucessos do
chamado cinema ficção cientifica para descrever dois cenários futuros da
sociedade: a distopia de Matrix a partir de sua “hiperautocracia”, em que temos
um poder absoluto que governa com a pratica de uma vigilância desvairada sobre
as pessoas, com um controle total sobre suas vidas e consumo.
A outra possibilidade, mais
otimista, seria com um cenário construído sob a ótica de Star Trek, em que as
máquinas servem incondicionalmente aos humanos, em um ambiente em que os
próprios humanos gastam suas energias e recursos no universo e entregando-se
aos longos debates sobre o sentido da vida, da mesma forma que se fazia na
Grécia antiga, em uma “ágora tecnológica” – abrindo o portal do oráculo e o
caminho a ser seguido em um futuro bem próximo.
Mas voltando ao presente,
Varoufakis diz que atualmente o capitalismo está operando um processo contra os
trabalhadores de baixa qualificação, colocados como um grande problema pelo
sistema. “Existe uma solução: eliminar
os trabalhadores pobres. O capitalismo está fazendo isso ao
substituir trabalhadores de baixa renda com autômatos, androides e robôs. O
problema é que, enquanto a esfera econômica e política estão separadas, a
automação torna os picos gêmeos mais altos, o desperdício mais elevado e
os conflitos sociais mais profundos, incluindo, em breve, eu
acredito, lugares como a China” - criticou o grego, ao dizer que a China repete
o processo de desenvolvimento da Grã-Bretanha do Séc.19, na transição para a
segunda fase da Revolução Industrial.
Um
futuro imaginário e possível
De forma bem simples, Yanus
Varoufakis descreveu uma proposta que leva em consideração a ênfase num mundo libertário
e democrático que criaria novamente uma esfera político-econômica reunificada.
“No nível empresarial, imaginem
um mercado de capitais, no qual se ganha o capital com o trabalho, e
no qual o seu capital segue você de um emprego a outro, de uma empresa a
outra, e a empresa, qualquer uma que você esteja trabalhando em
naquele momento, é de propriedade exclusiva daqueles que trabalham nela
naquele momento. Então, toda a renda decorre do capital, dos lucros, e
o próprio conceito do salário torna-se obsoleto. Não há separação entre
proprietários, mas que não trabalham na empresa, e aqueles que trabalham,
mas não são proprietários da empresa; não há mais o cabo de guerra entre
capital e trabalho; nenhuma grande lacuna entre investimento e poupança; na
verdade, nenhum pico duplo elevado.
No nível da global economia
política, imaginem por um momento que as nossas moedas nacionais
tenham uma taxa de câmbio livre flutuante, com uma moeda universal,
global, digital, uma que seja emitida pelo Fundo Monetário Internacional, o
G-20, em nome de toda a humanidade. E imaginem mais, que todo o
comércio internacional seja denominado nessa moeda, vamos chamá-la de
"o cosmos", em unidades de cosmos, com todos os governos
concordando em investir em um fundo comum uma soma de unidades cosmos
proporcional ao déficit comercial do país, ou mesmo ao superávit comercial
de um país. E imaginem que esse fundo seja utilizado para investir em
tecnologias verdes, especialmente em partes do mundo nas quais o
financiamento de investimentos é escasso.
Essa não é uma ideia nova. É
o que, efetivamente, John Maynard Keynes propôs, em 1944, na Conferência
de Bretton Woods. O problema é que naquela época, eles não tinham a
tecnologia para implementá-la. Agora nós temos, especialmente no
contexto de uma esfera político-econômica reunificada.
O mundo que estou descrevendo
a vocês é, simultaneamente, libertário, na medida em que prioriza
indivíduos com poderes, marxista, uma vez que terá confinado para a
lata de lixo da história a divisão entre capital e trabalho, e a
keynesiana, keynesiana global. Mas acima de tudo, é um mundo no
qual seremos capazes de imaginar uma democracia autêntica. Será que tal mundo
surgirá? Ou devemos nos rebaixar a uma distopia tipo Matrix? A resposta
reside na escolha política que deve ser tomada coletivamente. É nossa
escolha, e é melhor fazê-lo democraticamente - concluiu.
Fonte: TED.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário